Saudações,
Como de costume, escrevo na segunda-feira pós-torneio. E dessa vez deu pra cansar. Foram onze rodadas duras para a maioria dos jogadores, com altos e baixos para todos. Que fique bem claro que o fator cansaço não pode ser usado de desculpa, afinal das contas todos sofrem deste mal e leva vantagem quem estiver melhor preparardo ou de repente mais acostumado. Mas realmente, curioso foi o desempenho de alguns brasileiros que lutavam na parte de cima da tabela no fatídico sábado, dia primeiro de Agosto. Krikor 0/2, Diamant 0/2, Di Berardino 0,5/2, El Debs 0,5/2, Bittencourt 1/2, Milos 1/2 (mesmo terminando com 8,5 e classificando para o mundial, sofreu sua única derrota neste dia).
Ainda ontem, tivemos o desempate para as 4 vagas restantes do mundial (o torneio oferecia 6 vagas, e Corrales(CUB) / Shabalov(EUA) garantiram seus lugares com 9/11). Seis jogadores terminaram com 8,5, o que significava que dois deles ficariam de fora da luta. Relembrando que a rodada ontem começou às 15h… o desempate terminou exatamente 2h15 da madrugada, com uma disputa emocionante pela última vaga entre Ivanov (EUA) x M. Flores Rios (CHI). No fim, a experiência falou mais alto e Mauricio, juntamente com o norte-americano Friedel, ficaram de fora da copa do mundo a ser realizada em Novembro, em geladas terras da Sibéria. O Brasil vai representado pelos GMs Alex Fier, Rafael Leitão (vaga obtida no Zonal) e Gilberto Milos (Continental), ainda tendo a presença feminina da WMF Juliana Terao (Zonal).
A respeito de chances de norma, que costuma ser a pergunta mais feita aqui no blog, confesso que eu não queria escrever sobre isso ao longo do torneio, pois acredito que jogar a partida o mais tranquilo possível é sempre a melhor solução, e a tensão/expectativa desse tipo de resultado vem me afetando nos momentos decisivos. Fato este, que de repente agravou o nível das minhas partidas no sábado. Relembrando que isso não é qualquer tipo de desculpa, mas talvez um defeito da maneira de como encarar as partidas e os momentos cruciais. Agora, falando em português, eu precisava ganhar do GM argentino Diego Flores pela nona rodada, ou então, mesmo depois dessa derrota, necessitaria ganhar do MI M.V.M. ‘Ovelha’ Santos e ganhar a última rodada. 7/9 ou 8/11 seriam suficientes. Mas, o que foi visto foram duas penduradas grosseiras (contra Flores, em uma posição já inferior e contra Ovelha em uma posição de grande vantagem). Não há muito o que ser dito… fica pra próxima, fazer o que?
Vamos ás partidas:
Na oitava rodada, contra o GM cubano Quesada Perez, preparei uma linha interessante da defesa Nimzo-Índia (revivi o 1.d4 que há tempos não jogava). A preparação encaixou como uma luva e no lance 24.Txa7, acredito já ter alguma vantagem por causa dos peões passados da ala dama. O preto tem a coluna ‘c’ e um cavalo pentelhando, mas acredito que a longo prazo a posição branca é bem preferível. Depois de 30…Ta8?, consigo grande vantagem com 31.Tc3!, mas logo deixei escapar o simples 32.Ba6! Tf8 33.Txa8 Txa8 34.b4! mobilizando rapidamente a ala da dama, quando a vitória seria apenas questão de técnica. Nos lances seguintes, uma boa defesa das pretas e o empate é forçado na posição final. (45.Ta5+, 46.Ta4+, etc).
Mekhitarian – Quesada Perez, E20, 8ª rod., 1/2-1/2 (no site)
Na nona rodada, joguei contra o criativo e exótico GM argentino Diego Flores, que me surpreendeu logo com 5…Ce7 (esse realmente eu não tinha preparado). Tentei tirar as peças e no lance 18.Be4 acredito ter uma posição algo mais confortável devido à estrutura de peões das pretas (meu rei sempre fica um pouco exposto, mas é questão de tomar o devido cuidado apenas). No apuro, fiz lances imprecisos e arrisquei demais com 28.g4, que de fato não é ruim, mas compromete muito a posição a longo prazo. 32.fxe6 simplesmente ganharia o peão (apesar de parecer assustador), mas preferi pelo passivo e pavoroso 32.Tg1, e conclui a obra de arte com 34.Td1!! que perde o peão de g4, a torre de f2, o cavalo de e4 e deve levar mate logo logo… NICE!
Mekhitarian – Flores, B42, 9ª rod.,0-1 (no site)
Na penúltima, enfrentei o MI Ovelha, contra o qual tenho um belo retrospecto de 5 derrotas (contando essa), 5 empates e 1 vitória (a vitória foi em uma partida de 60 minutos, e não valia rating, mas como o escore é horrível, eu tenho que contabilizá-la, rs). Joguei a minha fiel defesa Gruenfeld e acho que tirei bem as peças até o lance 14. Uma possibilidade era 14…Ch5, seguido de g5 para pegar o par de bispo das brancas, mas a possibilidade e Bxg5 hxg5 Cxg5 me incomodava um pouco. Na confusão que seguiu, 14…Dxb2 parece ser impreciso, por causa de 17.e5!… e se Ch7, o branco tem o elegante 18.Bxe7! Txe7 19.Cd5! com vantagem clara. 17.d5?, como jogado, alivia bastante a posição das pretas, que teriam um peão a mais com o simples 20…Tf8!. Mas, na prática não é fácil, e por eu já estar apurado de tempo, não culpo o branco por não ter jogado o lance mais preciso. Na prática, a história é sempre outra. Joguei 20…Cfxd5?, nem sonhando com 21.Txd5! e errando mais uma vez com 22…Bd7?, ficando perdido logo em seguida. Possível ainda seria 22…Be6! 23.Bxe8 Dxd5 24.Ba4 Da5!, quando o branco mantém a peça a mais e alguma vantagem, mas tem certos problemas para coordenar as peças.
Santos – Mekhitarian, D91, 10ª rod., 1-0 (no site)
Fechando o torneio, na noite do sábado, ainda tive forças para preparar mais um 1.d4, que encaixou bem once again, apesar do equivocado 19.Ce4?! (o plano geralmente é Ca2, para apoiar um possível b4). Logo me dei conta, e consegui re-transferir o cavalo lá pra trás. O final que seguiu, BPPPP x CPP, seguramente é ganho para o branco, pois o cavalo preto não consegue encontrar um lugar muito bom para ficar por muito tempo. De fato, 49…Cf7 facilitou minha tarefa, pois de lá o equíno morre para sempre, – 50.f4! - não tem mais perspectivas e só resta ao preto observar o progresso do rei branco.
Mekhitarian – Gonzalez, A58, 11ª rod., 1-0 (no site)
LIVE RATINGS – TOP 20 Brasil
Destaques para:
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Fier, que assumiu o posto de número 1 nas projeções com 2635;
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Milos, que voltou aos 2600;
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Tsuboi, que quebrou com folga a barreira dos 2400.
Torneios Contabilizados
- Continental das Américas [Vescovi, Leitão, Fier, Milos, Mecking, Diamant, Mekhitarian, Matsuura, El Debs, Bttencourt, Di Berardino, Tsuboi, Van Riemsdijk e Santos].
- Zonal 2.4 [Leitão, Fier, Mecking, Diamant, Lima, Matsuura, Bittencourt];
- Olimpíada Mercosul [Vescovi, Leitão, Fier, Diamant, Lima];
- IRT Santos – FPX [Mekhitarian, Matsuura, Rocha];
- Macabíadas [Diamant];
- Aberto de Montcada [Van Riemsdijk];
- Estadual de Mestres do RJ [Di Berardino].
Destaques do Continental
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Gilberto Milos - pelo impressionante desempenho e pela conquista da vaga do mundial;
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Vanessa Feliciano - pelos resultados firmes e conquista da primeira norma de WMI;
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Mauricio Flores Rios(CHI) e Jorge Cori(PER) – por terem obtido duas normas de GM cada;
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Fidel Corrales(CUB) e Alex Shabalov(EUA) – pelos 9 pontos conquistados em 11 rodadas, e por terem demonstrado um xadrez confiante e incisivo.
That’s all folks. Acredito que todo mundo aprendeu essa semana, seja jogando ou acompanhando os resultados e partidas lance a lance. Esperamos que o Brasil possa sediar mais torneios desse porte num futuro próximo, porque é justamente esse contato com o xadrez mundial que nos fortalece, sejamos iniciantes ou GMs.
No próximo domingo, dia 9 (dia dos pais, ugh), teremos o São José Open, com R$ 5.000,00 em prêmios, válido pelo circuito 21’ da FPX. Nos vemos lá!
Nothing left to say,
KSM